Tecnologia de sementes e conservação de Cupania fluminensis Acev.-Rodr. (Sapindaceae), uma espécie endêmica e ameaçada da Mata Atlântica

Abstract

Cupania fluminensis é uma espécie arbórea da família Sapindaceae, endêmica do estado do Rio de Janeiro, e que se encontra em perigo de extinção (EN). Observado o estado alarmante de conservação das espécies e o longo histórico de degradação da Mata Atlântica, é necessário que medidas sejam tomadas para frear e reverter esse panorama. Com isso, a tecnologia de sementes de espécies nativas é uma ferramenta para obter conhecimento sobre a germinação das espécies e as melhores condições para sua multiplicação. Cupania fluminensis, no entanto, carece de estudos dessa área do conhecimento, fazendo com que essas informações sejam desconhecidas para a espécie. Logo, o objetivo desse trabalho é avaliar a germinação de sementes de Cupania fluminensis em diferentes temperaturas, substratos, com diferentes teores de água e avaliar se esta tolera o armazenamento, assim como obter os valores de peso de mil sementes e morfometria das sementes coletadas. Também foram obtidos os registros em herbários de ocorrência da espécie, buscando mapear a sua distribuição natural. Foram coletadas sementes de duas matrizes da espécie no município de Macaé (RJ), em outubro de 2021 (matriz 1) e outubro de 2022 (matriz 2). As sementes recém coletadas foram medidas em relação a morfometria (largura, comprimento e peso), peso de mil sementes, teor de água e germinação. Foram realizados experimentos de temperatura, substrato, tolerância à dessecação e armazenamento. O experimento de temperatura analisou a germinação das sementes de Cupania fluminensis em 15°C, 20°C, 25°C, 30°C, 35°C e 20-30°C alternados, em substrato de rolo de papel. O experimento de substrato avaliou a germinação das sementes da espécie: entre papel, sobre papel, entre vermiculita, sobre vermiculita, entre areia e sobre areia. No experimento para avaliar a tolerância das sementes ao dessecamento, foram utilizadas oito amostras de 100 sementes e colocadas para secar em peneiras dentro de estufa de circulação forçada de ar, a 35°C. O peso das sementes foi sendo aferido ao longo do experimento até alcançarem os seguintes teores de água: T0 = 54.7%, T1 = 51.7%, T2 = 50.8%, T3 = 47.5%, T4 = 43.4%, T5 = 37.7%, T6 = 29.8%, T7 = 22.0% e T8 = 15.5%. No experimento de armazenamento, sementes frescas foram acondicionadas em embalagens plásticas por quatro meses, nas seguintes condições: à vácuo em ambiente de laboratório (29°C; UR 52%); sem vácuo em geladeira (4,31°C; UR 32,2%); com vácuo em geladeira. Os experimentos de temperatura e substrato foram submetidos à análise de variância e teste de Scott-Knott. A análise dos dados de secagem foi feita por de regressão linear. As sementes apresentaram comprimento médio de 12,83 ± 1,14 mm , largura de 9,54 ± 0,66 mm e peso de 0,69 ± 0,16 g. O peso de mil sementes correspondeu a 669.8 ± 10,5 g (1493 sementes/kg) e 688.7 ± 27.9 g (1452 sementes/kg), na matriz 1 e 2, respectivamente. O teor de água das sementes foi 43,80 ± 1,68% para a matriz 1 e 54,90 ± 1,77% para a matriz 2. Os resultados apontaram 25oC e 30oC como as melhores temperaturas para germinação e sobre papel como melhor substrato. A espécie não tolerou o armazenamento. Cupania fluminensis germina satisfatoriamente com teor de água nas sementes entre 38% e 43% e apresenta teor de água letal de 20%, classificando-se como uma espécie recalcitrante. A espécie apresentou 23 registros de ocorrência amplamente distribuídos pelo estado, sendo dois em unidades de conservação, o que pode representar uma carência de conservação in situ e baixa intensidade de coleta da espécie, podendo subestimar a real distribuição da espécie.