Para além do Estado-Nação? Disputas políticas sobre a ideia de plurinacionalidade na Bolívia

Abstract

Discuto nesta dissertação as lutas sociais na Bolívia no contexto de formação do Estado Plurinacional e como a ideia de plurinacionalidade coincide com a reivindicação por uma nação aimará e uma nação quéchua. É com o surgimento do katarismo como projeto político entre estes segmentos sociais e étnicos da Bolívia, nos anos 1970, que se desenvolverá também a noção de sociedade plurinacional. Para entender tal processo, trabalho a ideia de nação como comunidade política imaginada na perspectiva construída por Benedict Anderson, entendendo, porém, que os diversos segmentos organizados a disputam enquanto uma arena política, como chama a atenção Katherine Verdery. Dessa maneira, analisando o processo histórico boliviano de construção republicana do Estado, percebe-se a existência de sucessivas crises sociais e de poder, onde chama atenção a dificuldade de se lidar com a alteridade índia construída. O Estado eurocêntrico incapaz de se fazer representação de uma maioria indígena abriu espaço ao surgimento de outras formas representativas, que se consolidam como alternativa no período de questionamento ao neoliberalismo. Tal empreendimento é desenvolvido através da investigação em torno das controvérsias entre os diversos sujeitos sociais bolivianos e as diferentes narrativas históricas construídas por eles. Assim, vislumbro construir um desenho dos confrontos no país por meio dos posicionamentos políticos e seus respectivos locais de fala. O estudo do caso boliviano, sua organização social e estatal, pretende responder e suscitar questões a respeito do debate conceitual sobre a nação e os nacionalismos, e, de alguma maneira, contribui para o mesmo tomando como ponto de partida as reivindicações populares, as tradições e como tais projetos políticos se articulam com estes.